A servidora aposentada Marcelina Caetano de 71 anos sente o coração apertado quando está a caminho do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. É lá que ela encontra e distribui comida a pessoas desconhecidas e, na maioria das vezes, estas pessoas estão doentes e carentes de atenção. Quando Dona Marcelina chega, a surpresa é tanta que muitos nem acreditam no que ela faz. Próximo ao estacionamento do HC ela e a família descarregam dezenas de marmitas que são entregues a pacientes e acompanhantes famintos e sem dinheiro para comprar nas lanchonetes. Quando perguntada por que decidiu tomar essa atitude há quase um ano ela calmamente explica seus motivos “quando minha irmã teve um problema de saúde, frequentei os corredores desse hospital por muito tempo, uns dois anos, e nem sempre eu tinha dinheiro pra comprar um lanche. Cheguei a ficar com fome várias vezes e sei o quanto é difícil, o quanto essas pessoas sofrem” revela a aposentada. Com saudosismo do tempo de criança, ela também lembra as dificuldades que passou “sou filha de uma família pobre, tivemos muitas dificuldades, mas nunca passei falta de nada em casa”. Ao terminar de distribuir as marmitas, revela que o coração agora é “leve” e, ao final, sempre faz uma oração discreta agradecendo a Deus.
Dona Marcelina leva com ela o marido com quem é casada há 49 anos e uma das filhas para ajudar nas entregas. A idosa trabalhou por mais de 30 anos como auxiliar de enfermagem no serviço público, agora, aposentada, não abre mão de reservar um tempinho do seu dia para continuar ajudando as pessoas, assim como fazia na época em que trabalhava. Tudo é feito pela família, segundo ela, eles vão separando os alimentos também recebem algumas doações e no dia da entrega acordam cedo e começam a cozinhar. Dona Marcela diz que prepara tudo com muito cuidado e a experiência como enfermeira a ajuda muito “faço tudo com ingredientes frescos e cuido do sal e do óleo. Sei que aqui as pessoas estão com problemas de saúde e não podem se alimentar mal”. Além disso, ela diz que antes de sair de casa, pede a Deus para que lhe mostre quem de fato necessita.
Moradora de Ibitinga aceita marmita depois de ficar horas sem comer
Laura Nogueira, faxineira de 59 anos moradora de Ibitinga é uma das pacientes que tem que se preocupar com a alimentação. Laura faz tratamento de tireóide no HC e havia acabado de passar pela consulta e estava à procura de uma lanchonete quando se encontrou com Dona Marcelina oferecendo as marmitas, a princípio, ficou preocupada se poderia comer porque também sofre de pressão arterial, mas logo compreendeu que tudo foi feito pela enfermeira aposentada pensando nessas complicações de saúde. “Muito obrigado, parabéns pela iniciativa, achei ótimo, não vou precisar gastar para comer na lanchonete” disse a paciente Laura ou retribuir o carinho de Marcelina.
A Diretora do IPM do SSM-RP Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto Maria Alice Julio acompanhou a última entrega que Marcelina fez no HC e também valorizou a solidariedade da servidora cidadã. “Nós do Sindicato sempre buscamos contar histórias como as de Marcelina. São exemplos de servidores, aposentados ou não, envolvidos com as comunidades, com o próximo e com o bem estar das pessoas. Isso nos emociona profundamente e nós percebemos que o retorno de disso tudo, dinheiro nenhum paga” completou a Diretora.
Para Dona Marcelina o “pagamento” sempre vem de diferentes maneiras, na última entrega, por exemplo, ganhou um abraço apertado de uma senhora com mais de 70 anos que lhe agradeceu profundamente pelo trabalho social dela. Ela garante que atitudes como essas são o que a move e, a cada visita, ela se esforça para aumentar o número de marmitas distribuídas. Na próxima vez que voltar ao HC quer dobrar as doações e entregar pelo menos 60 marmitas. “Uma vez me falaram que o que eu faço é muito pouco, mas eu penso que se cada um de nós fizer esse ‘pouco’ teremos algo grandioso no final” fala a aposentada.