Forro ameaça desabar a qualquer momento: risco para visitantes, servidores e até para as obras do museu. Não há verba Federal, Estadual ou Municipal para custear uma reforma e resolver o problema. Secretário pensa em buscar dinheiro na iniciativa privada
Visitar um museu é, quase sempre, uma experiência muito agradável, um verdadeiro mergulho no passado e na história. Em Ribeirão Preto, para os visitantes do Museu do Café, circular pelos corredores do antigo casarão que pertenceu à família do grande empresário Francisco Schmidt, é revelador, de fato. Mas com um olhar pouco mais curioso é possível ir além do que está somente à disposição do público. Isso, necessariamente não significa que irá encontrar algo bonito de se ver. A qualquer momento, o olhar pode perfeitamente se perder das obras expostas nos salões e observar o abandono em que as dependências do prédio se encontram. Os desavisados, talvez, possam até confundir os estragos no teto com uma obra contemporânea, uma exposição diferente ao que o museu se propõe, talvez. Mas longe de ser um aperitivo da arte moderna, as ruínas em que grande parte do museu se encontra foram causados pelo tempo e pela falta de manutenção desse espaço. Para constatar o descaso, basta o visitante olhar para o alto.
Na visita da Diretoria Atuante do Sindicato dos Servidores Municipais foi necessário um olhar mais atento e para todos os lados. A vistoria aconteceu na manhã de sexta-feira, 17, quando a Coordenadora da Seccional da Cultura, Claúdia Torres, convidou o próprio Secretário da Cultura, Alessandro Maraca, para circular pelas dependências do museu, principalmente nos espaços destinados aos servidores municipais daquele local que estão cansados de conviver com tamanho descaso da administração municipal.
Coordenadora da Seccional da Cultura, Cláudia Torres, ao lado do Secretário, Alessandro Maraca, durante a visita ao Museu do Café.
O forro está prestes a desabar já que, segundo os trabalhadores existem diversas telhas quebradas e, quando chove, formam-se inúmeras goteiras. Quando isso ocorre, a visitação tem que ser interrompida imediatamente. É uma ameaça constante aos visitantes, servidores e para as próprias obras do museu, todos convivem com o risco iminente do teto desabar. Alguns espaços do local estão interditados devido ao risco de acidentes.
Cavaletes foram colocados na varanda do Museu para alertar as pessoas sobre o risco de desabamento, a madeira está totalmente comprometida. O forro também está condenado.
Sujeira, banheiros sem a mínima condição de higiene, mofo e uma área de alimentação inadequada para os funcionários não fugiram ao olhares da Diretoria que, na mesma hora, cobrou providências ao secretário. O próprio Diretor do Museu, Daniel Basso, que também fez parte do grupo que percorreu o local, desaconselha qualquer pessoa de comer no ambiente fornecido aos trabalhadores da cultura. “No lugar onde eles almoçam é um lugar precário e vaza muita água, tá úmido, tá podre o forro. Eu particularmente não como nada dentro daquela casa. Existem muitos gatos dentro desses forros, eles chegam a urinar. Às vezes, pinga urina até na comida do pessoal” alertou o Diretor.
Para a Coordenadora da Seccional da Cultura a visita de diretores ao ambiente de trabalho dos servidores, independente do setor, é algo comum e que faz parte da rotina do Sindicato. A novidade, nesse caso, foi a presença do secretário que não pode “escapar” da triste realidade dos servidores do museu. Ela reconhece que as reformas do local é um processo delicado por se tratar de prédios históricos, mas que isso também não pode ser usado como desculpa. “O ideal é que nós tivéssemos uma área moderna, recém construída, mas por se tratar de um museu, nós temos aqui um espaço histórico e que vai ter que ser adequado na medida do possível. O secretario esteve conosco, e agora sabe de todos os problemas. Não tem como não dar a atenção necessária. Vamos cobrar, acompanhar e fiscalizar tudo”, enfatizou Torres.
O secretário Maraca salientou que os prédios não passam por reformas há vários anos, o local dos servidores, uma antiga casa de colônia, foi reformado da última vez em 2004. Para ele, a precariedade não é novidade. Segundo Maraca, essas dificuldades já teriam sido mapeadas no início de sua administração, mas naquele momento o projeto de reforma não conseguiu recursos com o governo federal e estadual. Ele também admite que, nesse momento, também não há verba municipal para arcar com as despesas de uma obra como essa, mas apresentou a possibilidade de encontrar esses recursos através de parceiros. Porém, com a gravidade da situação, o secretario se comprometeu a usar de imediato uma verba do fundo municipal, que já adiantou ser “pequena e limitada” para fazer alguns reparos. “A gente tá pedindo para uma empresa vir até aqui para fazer pelos menos algumas adequações necessárias aqui na área de alimentação, por exemplo. Nos banheiros também. Não será uma reforma maior por que isso também depende de uma verba maior. O que será feito nesse momento servirá para o servidor ter um pouco mais de dignidade durante o seu dia de trabalho. A reforma geral estamos buscando parcerias para realizá-las o que pode acontecer dentro de alguns meses”. Informou o Secretário.
Banheiro feminino usado pelas servidoras da Cultura que trabalham no Museu do Café. As condições são precárias.
Banheiro masculino usado pelos servidores da Cultura que trabalham no Museu do Café. As condições são precárias.
Área usada pelos servidores da cultura e que abriga os banheiros e refeitório. Última reforma foi há mais de dez anos.
Obra de gesso de Duque de Caxias que deu origem à estátua original está correndo um grande risco. O teto pode desabar a qualquer momento e a obra pode ser destruída.
Servidores também dividem espaço com muitos materiais descartados pela administração e que se acumularam ao longo dos anos.