Valdir Avelino – presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará a Pradópolis
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Reportagem publicada nesta semana pelo Tribuna Ribeirão revela que conter desigualdade e formar professores devem ser prioridade da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundação que faz parte do Ministério da Educação (MEC). Ainda segundo o Tribuna, atualmente a Capes é responsável pelo pagamento de 50.699 bolsas de doutorado, 44.019 bolsas de mestrado e 3.542 bolsas de pós-doutorado no país.
Boa iniciativa da Capes, mas não podemos desconsiderar que, em muitas situações, a carência de professores para algumas disciplinas não decorre do número insuficiente de licenciados formados nas áreas por instituições universitárias, como se imagina, mas da total falta de interesse dos formandos de seguir a carreira no magistério. Estudos feitos pelo professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, há muito tempo, já haviam demonstrado que o que afasta os novos professores das salas de aulas são problemas relacionados aos baixos vencimentos, às más condições de trabalho e ao desprestígio do magistério público.
Muitos egressos dos cursos de licenciatura não querem seguir carreira dentro de salas de aula porque os professores são trabalhadores de nível superior, que no Brasil ganham menos do que outros profissionais com o mesmo nível de formação. A valorização dos professores, uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, ainda não foi atingida em sua plenitude.
O Brasil já apareceu em penúltimo lugar, entre 21 países, em um ranking de valorização de professores, com base na remuneração de docentes, respeito por parte dos alunos em sala de aula e o interesse pela profissão, segundo uma antiga pesquisa divulgada pela fundação educacional Varkey Gems. Na mesma época, outra pesquisa, das fundações Victor Civita e Carlos Chagas, apontava indícios desanimadores que persistem até hoje: apenas 2% dos estudantes de ensino médio pesquisados tinham como primeira opção, no vestibular, carreiras em pedagogia ou licenciatura.
Eu entendo que para tornar verdadeiramente atraente a carreira do professor, é preciso garantir bom salário, boa carreira e boas condições de trabalho. E, boas condições de trabalho envolvem escolas bem equipadas e democracia no ambiente escolar. Apesar do esforço e de conquistas do nosso Sindicato dos Servidores Municipais / RPGP em obrigar o governo a fazer melhorias nas escolas municipais, ainda falta muito a fazer neste sentido e, sobretudo, falta democracia nas escolas e no sistema municipal de ensino. Não há como a rede municipal de ensino fazer um contraponto ao avanço do autoritarismo quando os principais gestores municipais não compreendem e, por lógica, não praticam os valores da cidadania. O tempo das tentações autoritárias já passou no Brasil, mas prossegue uma marcha da insensatez no comando do ensino municipal. O governo não está aberto para abordar e dialogar temas como o próprio conceito de democracia, o processo político educacional e a participação dos servidores da educação na definição dos rumos do ensino municipal. Infelizmente o resultado desse comportamento não está em sintonia com o esforço que todo o Brasil recomeçou a fazer em valorizar e prestigiar o papel dos nossos professores e o sentido estratégico da educação.